YONE GIANNETTI FONSECA
( Minas Gerais – Brasil )
Yone Gianetti da Fonseca é uma poeta brasileira. Ganhou em 1976 o 18.º Prêmio Jabuti, na categoria Poesia, com seu livro Rosa Dialética.
Formou-se em Letras pela UFMG e em Psicologia pela Faculdade de Filosofia de São Paulo. Em 1981, ficou em segundo lugar no Concurso Nacional de Poesia Cruz e Sousa, com o livro Mulher[3].
Integrou o movimento da Poesia-práxis, ao lado de Mário Chamie e Armando Freitas Filho, entre outros.
Filha de Américo Renné Gianetti (prefeito de Belo Horizonte entre 1951 e 1954), é mãe do filósofo Eduardo Gianetti da Fonseca.
ROTEIRO DA POESIA BRASILEIRA: ANOS 60. Seleção e
prefácio Pedro Lyra; direção Edla van Steen. São Paulo:
Global, 2011. (Coleção Roteiro da Poesia Brasileira)
ISBN 978-85-260-1153-3 Ex. bibl. Salomão Sousa
ENTRE O SONHO E O NOJO
Nenhum panorama
Além desta tarde
De cimento e lama
Nenhum desafogo
No jogo incansável
Entre o sonho e o nojo.
Nenhuma surpresa
No gozo da prenda:
Só cara ou coroa.
Nenhuma palavra
Tão desnecessária
Que não seja caça.
Somente o recalque
Desta virgindade
Disfarçada em atos.
Nenhum desenlace,
Apenas a lágrima
Inundando a alma.
À beira do rio
O mapa das praias
Como uma miragem.
Nenhuma verdade
Tão inteira e intacta,
Que não se descarte.
Somente o desastre
Deste com sem arte
De não ser abstrato.
Nenhuma memória,
Nenhum estandarte
Somente um ensaio
Que ninguém repara,
Sempre uma cachaça
Inundando a carne.
Rosa dialética (1975)
POEMA PARA O FILHO QUE SE CASA
Que este sonho inaugurado
Em tua carne, em teus atos,
Não se dissolva, abstrato,
Ao contacto dos cactos.
Que este intervalo de orvalho
Em seu sorriso espelhado,
Mesmo exaurido, restaure
Futuras noites de barro.
E nas urgências vividas
Em teu sonhar acordado,
Um pouco, muito persista
Desta brasa, desta brisa.
Que no sonho consumado
Nos embaraços dos laços,
Reste um desfrute de vida
Como fruto da saudade.
Rosa dialética (1975)
MULHER – I
E agora, mulher,
Que soltou seus freios,
Que saiu dos eixos.
E agora, camélia,
Sua carne manchada,
Transada, se salva?
E agora, o pecado
Tão moderno e quente
Vai ter Happy-end?
E agora, mulher,
Você vai poder
Pisar firme e reta?
Borboleta bêbada
De vinho e desejo,
Depois desta entrega.
Depois deste incêndio,
Cadê seu sossego,
Cadê seu roteiro?
E agora, mulher,
Que você aborta,
Que você desbunda.
E que arromba portas
Erguendo um revólver,
E que faz negócios.
E que puxa fumo,
Você desconfia
Que tudo é um gemido?
E agora, mulher,
Nordestina, escória,
Que virou carioca?
Que virou miragem,
Robô, operárias,
Puta e favelada?
Tão trivial e exposta
Ao consumo e à sorte
De uma coisa morta?'
POESIA PRAXIS
YONE GIANNETTI FONSECA
Prêmio Jabuti Poesia 1976 com Rosa Dialética.
Livro mais recente: Cristal Carvão.
“Em Entrevista (um fragmento), Yone Giannetti Fonseca pregunta y responde com infinitivos que impiden la explicación y concentran uma duda altamente crítica y lírica. MARIO CHAMIE
VOCABULARIO DE LOS POEMAS
(Ángel Crespo)
ENTREVISTAS: ter: tener; risco: riesgo; quisto: quiste; tino: tacto, juicio, cordura; sina: sino, suerte, destino; gole: trago, sorbo; fole: fuelle; prumo: plomada, plomo (fig. Prudência); doer: doler; coice: coz; cocho: cuezo, artesa.
Entrevistas
(fragmento)
Ser é ter?
Ter é viver?
Lote é dote,
Mote ou bote?
Ser é crer?
Crer é poder?
Cristo é trigo,
Risco ou quisto?
Ser é ver?
Ver é valer?
Tino é mimo,
Sina ou dínamo?
Ser é arder?
Arder, beber?
Gole é escola,
Fole ou ópio?
Ser é erguer?
Erguer, vencer?
Prumo é triunfo,
Truque ou fumo?
Ser ou doer?
Doer é prazer?
Gozo é coito,
Coice ou cocho?
Ser é ser?
Ser é não ser?
Morte é trote,
Corte ou porte?
* Texto y poema extraído de CHAMIE, Mario. “Poema-praxis: un acontecimiento revolucionario.” In: REVISTA DE CULTURA BRASILEÑA, Tomo III, Número 9, junio 1964, p. 171-199.
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Página publicada em junho de 2022
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